Instantes noturnos
Fúria e dor e suor frio.
Não consigo evitar tremer
de estômago vazio e sem vontade
de o tentar encher.
Levanto-me para percorrer o meu quarto desarrumado
com um leve cheiro a incenso queimado no ar,
na esperança de abafar
o ruído dos pensamentos
que lutam para se apoderar
das boas memórias empurradas para um canto
da minha mente.
Por fim, sem outro plano a que recorrer,
resolvo colocar os meus auscultadores
exagaradamente grandes ao estilo dos anos setenta
E no volume máximo, começo a esquecer
tudo o que me rodeia.
Estou mais uma vez naquele mundo de fantasia
que criei num momento de dor,
quando nada mais no presente parecia
fazer sentido.
Aqui nada me pode tocar.
Os meus sonhos mais selvagens
tornam-se realidade,
e a ansiedade é apenas uma velha memória
sem poder ou assiduidade.
Vou deixar-me ficar bem distante
até o sol entrar por entre as gretas dos meus estores;
até o mundo parecer acolhedor
novamente.